A cidade de Sete Quedas ficou em Luto com o falecimento da jovem Kailayne Portante, aos 20 anos, na cidade de Nova Alvorada do Sul, nesta sexta-feira (20/05). A família é original de Sete Quedas e foram morar em Nova Alvorada do Sul por compromisso de trabalho de seus pais. Mas a família ainda tem raízes em Sete Quedas, onde sua vó materna e tios ainda residem, e tem muitos amigos e conhecidos.
A história de Kailayne ficou conhecida por todo Mato Grosso do Sul. Empresários de Campo Grande e de Nova Alvorada do Sul contribuíram nas diversas campanhas realizadas por amigos e familiares para custear o tratamento.
A família passava meses tanto em Campo Grande quanto em São Paulo com as internações cada vez mais constantes. Cada internação, sessão de quimioterapia, atendimento de emergência era compartilhado através dos perfis das redes sociais que era acompanhada por milhares de amigos e seguidores. O testemunho comoveu os seguidores e formou uma corrente de oração e positividade na torcida pela cura da jovem.
A descoberta — “Tudo começou em junho ou julho de 2019 quando eu comecei a sentir um cansaço extremo e alguns desconfortos abdominais”, revelou a jovem em um vídeo postado em suas redes sociais há exatamente 2 anos. Na ocasião, já ia se completar um ano de luta e tratamento contra um câncer no pâncreas. O vídeo foi gravado em um momento em que as notícias não eram boas. Após um sucesso inicial do tratamento de quimioterapia, os exames realizados ao final da etapa mostravam um retorno das metástases no fígado e coluna. A jovem chegou a comemorar nas redes sociais o final do ciclo da quimioterapia e radioterapia, antes de saber da avaliação dos resultados. “eu estava me sentindo tão, mas tão feliz por ter passado por tudo isso, de uma forma leve porque eu tive ajuda de muita gente, apoio da minha família, dos meus amigos, e eu tinha 100% de certeza que tinha sido a última e que tinha acabado”, revelou a jovem ainda no mesmo vídeo. “Eu me senti muito mal porque era tudo o que eu não queria ouvir”, completou.
Apesar do revés, a luta não parou. A quimioterapia foi retomada, com mais intensidade, de quinzenal passou a ser semanal. Para agravar o ambiente emocional, o mundo inteiro começou a viver a tensão da pandemia de covid. Mesmo diante dessa situação, a jovem conseguiu manter a sobriedade para continuar o tratamento. “
Nessa fase é que começa a se destacar a força, a personalidade e a fé, demonstradas pela jovem. “Eu queria dizer que por mais que seja uma fase ruim, seja uma coisa que eu não queria estar passando, eu sou muito grata por estar passando por tudo isso e estar aprendendo muita coisa. Talvez, coisa que eu não ia aprender em 10 anos de vida, eu aprendi. Eu convivi com pessoas incríveis, eu conheci pessoas incríveis no hospital tratando câncer também, e eu acho que estou lidando de uma forma muito boa”, finaliza Kailayne.
A jovem retomou o tratamento e suas consequências, sem deixar de lado sua juventude, suas esperanças, seus amores e talentos. Um de seus talentos a se destacar era a pintura. Em meio ao tratamento, fez as ilustrações do livro “O Livro que Leu Você Primeiro” do escritor Renato Novaes. E foi através de uma tela de autorretrato em que mostra a cicatriz da cirurgia que ela trouxe mais uma lição.
“Depois da cirurgia eu passei por algumas intercorrências e uma delas foi me deparar com a ferida operatória aberta, no começo eu só queria que ela cicatrizasse, mas logo que ela cicatrizou minha autoestima foi pro chão por ter que ver essa marca em mim todos os dias. O processo de aceitação é lento e complicado, mas ter feito essa pintura me ajudou muito e me fez perceber que sou grata por essas cicatrizes”, escreveu na legenda quando postou a foto do quadro em sua rede social.
Em 8 de abril do ano passado, ela ainda fez um vídeo para lembrar a conscientização sobre o tratamento contra o câncer. “A Organização Mundial da Saúde – OMS instituiu a data de 8 de abril como Dia Mundial do Combate ao Câncer com intuito de ressaltar a importância da prevenção e do diagnóstico. Medidas aparentemente “simples” como manter hábitos saudáveis, praticar esportes e realizar exames periódicos podem detectar a doença e aumentar as chances de cura em 95% dos casos, de acordo com os dados da própria OMS. Está data é um lembrete àqueles que enfrentam essa realidade, uma oportunidade para ressaltar que existe soluções para o controle e combate do câncer”, escreveu na postagem.
Agora fica a herança de boas lembranças, pinturas, amigos e fotos que Kailayne deixou. O quarto dela, sempre colorido e alegre, deve ser preservado pela família. Os últimos meses foram intensos pela vida. “Parecia coisa de filme, ela planejou coisas que gostaria de viver antes de morrer, e acredito que tenha conseguido realizar tudo o que planejou”, revela uma amiga próxima.
Apesar das dores e outras agruras da luta contra o câncer, Kailayne encontrou disposição para alguns ensaios fotográficos de muito bom gosto. A jovem dava os primeiros passos como modelo fotográfico quando teve o diagnóstico do câncer. Pela fé e apoio da família, as constantes internações conseguiam ser superadas sem desespero. “Às vezes sair do ritmo faz parte da dança”, escreveu em sua postagem datada de 14 de fevereiro deste ano, para uma foto feliz e descontraída.