Em todo feriado de Finados, o túmulo de Fátima Aparecida Vieira, a menina que faleceu aos 7 anos de idade em 1979 e ganhou fama de milagreira, é atração na Capital. Símbolo da crença popular, "Aparecidinha" é buscada por moradores de todas as regiões que se deslocam até o cemitério Santo Amaro, na Avenida Presidente Vargas, por fé e devoção.
Com o título de santinha, a garotinha atrai visitantes em sua "morada" obituária desde que seu mausoléu começou a jorrar água, pouco tempo depois que foi enterrada, em 1979. Ao redor da sepultura, a população deixa flores, brinquedos e cartas com pedidos. Além disso, a água que supostamente mina da terra continua a ser ingerida pelos campo-grandenses.
Segundo a crença, o líquido é milagroso. No dia de Finados em 2021, havia até fila para beber e armazenar um pouco da água que sai da cova de Fátima. "Venho todo dia de finados. Até hoje, tudo que eu pedi pra ela, ela me atendeu. Hoje eu venho aqui por uma dor que tenho no braço e tenho certeza que eu vou ser curada, que no próximo dia de finados, se eu estiver viva e voltar aqui, não vou ter mais essa dor. Confio que ela vai interceder junto a Deus pela minha saúde pra tirar essa dor do meu braço", disse Oracy Gonçalves de Souza, de 61 anos, ao Jornal Midiamax, no feriado do ano passado.
No local, Oracy estava acompanhada da filha e da sobrinha e enfatizou sua devoção. "Começou quando a gente ficou sabendo dos milagres que já tinham acontecido através dela. Eu falo que é a fé, se você tiver fé, vir aqui e pedir para ela, ela vai interceder. Tem mais de 20 anos que eu venho aqui. Sempre fui atendida. Eu tenho fé, vou sair daqui hoje curada já", disse ela, que é assistente administrativa.

Tradição ameaçada
Naquele feriado de Finados, fiéis bebiam e espalhavam a água do túmulo pelo corpo na crença de receber alguma graça. Famílias, pessoas com câncer, dores em geral, e enfrentando as mais variadas adversidades.
Cercado por misticismo, o ambiente também é de emoção e se destaca no maior cemitério de Campo Grande. Ninguém se espanta ou tem receio da água que sai da terra onde restos mortais estão enterrados. E, apesar da situação, a Prefeitura agora faz o alerta e não recomenda o consumo.
A tradição movida e alimentada pela fé já ultrapassa quatro décadas, mas agora se encontra ameaçada com a orientação da Vigilância Ambiental e a ausência das torneiras.

História do túmulo de Fatinha
Mesmo resistindo há mais de 40 anos, muita gente não conhece e sequer faz ideia da existência da história da santinha milagreira da Capital.
Os mais antigos contam que Fátima Aparecida Vieira, a menina Fátima, morreu ao acender uma vela enquanto rezava para Nossa Senhora. A própria família da menina confirmou a história. "Ela era uma menina de muita fé, muito devota de Nossa Senhora", explicou a fiel Oracy à reportagem.
No passado, Paulo Eduardo Vieira, irmão de Fátima, relatou que a menina chegou da escola dizendo que deveria, por orientação da professora, acender uma vela à Nossa Senhora Aparecida para se sair bem em uma prova. Enquanto a família estava reunida na varanda, Fátima pediu a bênção da mãe e entrou em casa para tirar o uniforme. Em seguida, se trancou no quarto e decidiu fazer a "lição".
De repente, os familiares começaram a ouvir gritos vindos do quarto e correram para ver o que estava acontecendo. Trancada no cômodo, Fátima não conseguiu abrir a porta e passou a chave por baixo para que a família conseguisse destrancar. Ela então teria saído correndo, com parte do corpo queimado, se ajoelhou e pediu perdão a Deus e à mãe pelo que havia feito, segundo o relato do irmão.
Fátima ficou três dias internada na Santa Casa e, apesar dos ferimentos, aparentava estar bem. Sua morte foi uma surpresa e se tornou uma das mais fortes histórias cercadas de religiosidade e misticismo na Capital sul-mato-grossense.
